13 de abril de 2020

Nova rotina de profissionais da rede estadual inclui cuidados com saúde mental

Por Poliana Ribeiro

A psicóloga Cybelly Borges acompanha profissionais de saúde no HCI

A rotina dos profissionais que atuam nas unidades da rede estadual de saúde do Maranhão tornou-se ainda mais intensa com a pandemia do novo coronavírus (Covid-19). Não apenas os cuidados com higienização tiveram de ser redobrados, mas, acima de tudo, a preocupação com a saúde mental, por conta do receio de ser infectado e infectar outras pessoas, tornou-se uma nova prioridade. 

Se antes a rotina de Adriana Mafra, coordenadora de enfermagem da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Vinhais, incluía levar e buscar o filho na escola todos os dias, nas últimas semanas o afastamento da enfermeira tem sido sua maior demonstração de amor. 

A enfermeira Adriana Maffra

“A minha rotina era acordar, levar meu filho para a escola, ir trabalhar e depois buscá-lo no final da tarde. Hoje eu não vivo mais isso. Decidi proteger quem eu mais amo: meu filho! Estamos afastados esse período, a saudade é imensa, não tem como não chorar todos os dias. Quando chego à unidade, peço a Deus que nos abençoe, nos proteja e nos dê força para encarar esse desafio. Essa foi a nossa escolha profissional, temos que encarar de cabeça erguida e estamos preparados para isso. Tenho certeza que vamos sair vitoriosos”, afirma. 

Mais do que uma escolha profissional, trabalhar na área da saúde é uma missão levada a sério por quem jurou proteger a vida de outras pessoas. É isso que faz a enfermeira Tamires Barradas Cavalcante ter que superar adversidades para continuar atuando. “Não vou dizer que não dá medo. Dá medo sim, mas a gente tem sempre que lembrar que nós, profissionais da área da saúde, fizemos um juramento, prometemos proteger a vida a todo custo, e a gente não pode esquecer disso nessas horas. Então, psicologicamente eu tenho tentado me manter forte para estar nessa batalha. Quando se tem uma pandemia, a gente tem que ir preparado para a guerra, digamos assim, preparado para atuar no que for preciso”, conta. 

Além das dificuldades profissionais por conta da pandemia, a enfermeira também teve que lidar com a perda da mãe, pouco antes de começar o que ela denomina de batalha. “Eu perdi minha mãe uma semana antes de começar, de fato, aqui no Brasil, a batalha contra o coronavírus. Não pudemos fazer a missa de sétimo dia da minha mãe dentro de igreja, com aglomeração, já por conta do combate ao Covid-19. É aquela questão, nós somos profissionais da área da saúde, mas nós somos seres humanos também, nós somos pessoas, temos sentimentos”, explica. 

A enfermeira Tamires Barradas Cavalcante

Cuidados

A equipe que começou a atuar no Hospital de Cuidados Intensivos (HCI), inaugurado pelo Governo do Estado, na última sexta-feira (3), para receber casos mais graves de Covid-19, tem recebido suporte psicológico, assim como todos os profissionais da rede estadual. No caso do HCI, a responsável por trabalhar as competências socioemocionais da equipe é a psicóloga Cybelly Borges, que tem realizado um acompanhamento por grupos e individualmente. 

“Por meio de rodas de conversas, colhemos informações sobre angústias e medos de cada um, trabalhamos no atendimento individual, se for necessário, e fazemos dinâmicas para focar na importância da empatia e do trabalho em equipe. Sabemos que é complicado o cenário hoje encarado, mas sabemos também que os profissionais de saúde, em sua grande maioria, carregam seu trabalho como meta de vida e têm muito compromisso pelo que fazem. Estão todos emocionados, e com razão: tudo que é novo de fato é assustador”, destaca. 

A psicóloga detalha algumas técnicas que têm utilizado tanto com a equipe do HCI quanto pessoalmente. “Eu oriento que tenhamos senso de propósito para alinhar melhor com o objetivo de vida, flexibilidade para se adaptar ao que é necessário, e, por fim, resiliência para enxergar além do que está sendo vivido, ou seja, acreditar que as coisas vão melhorar para que esse desconforto emocional cesse mais rápido e você tenha controle dos seus pensamentos. Tenho feito uma técnica preventiva de meditação todos os dias, chamada técnica de relaxamento mindfulness, que auxilia na baixa do pensamento acelerado e trabalha a respiração. Também estou aplicando com a equipe de UTI antes de começar o plantão e os resultados são incríveis”, detalha. 

Diante dos novos leitos inaugurados no Hospital Dr. Genésio Rêgo na segunda-feira (6), a técnica de enfermagem Geniuslane Viana exibia uma paramentação diferente para encarar sua nova rotina de trabalho. “A gente vem se preparando não só com os EPIs, mas o psicológico também porque todos nós corremos risco de pegar, então nosso psicológico é trabalhado a cada dia para que a gente não se apavore. Nós, profissionais da saúde, não temos que nos apavorar, temos que passar tranquilidade para a população. Se nós que estamos na linha de frente ficarmos apavorados, como vai ficar a população?”, questiona. 

Durante a entrega dos 52 novos leitos no Hospital dr. Genésio Rêgo, na Vila Palmeira, o secretário de Estado da Saúde, Carlos Lula agradeceu o empenho dos profissionais da saúde, mas demonstrou preocupação com o aumento de casos no Maranhão e com o fato de muitas pessoas ainda não estarem respeitando as medidas de isolamento social. 

“Já temos profissionais de saúde que foram contaminados com a doença, mesmo a gente tendo toda a precaução de ter todo o EPI, ter todo o aparato para cuidar dos profissionais. Isso demonstra que a transmissão dessa doença é ainda maior do que a gente imaginava. A gente quer muito voltar à normalidade, mas isso não vai acontecer se a gente não tomar precauções, que nesse momento é a população respeitar as medidas sanitárias, principalmente ficar em casa”, enfatiza. 

Para o presidente da Empresa Maranhense de Serviços Hospitalares, Marcos Grande, todas as medidas tomadas pelo Governo do Estado têm como objetivo assegurar a saúde dos maranhenses. “O Governo tem se preparado todos os dias, observando os números, verificando o que precisa evoluir para poder se adaptar e proteger a nossa população. Nesse processo todo, o que é mais importante para o Governo do Estado é a preservação da saúde da nossa população, o que inclui os profissionais da saúde”, ressalta.

Eduardo Ericeira